quarta-feira, 30 de junho de 2010

TE DOU MEUS BRAÇOS

Quando ela chegou à noite pensei: o que faz aqui uma hora dessas? Percebi que seus olhos lacrimejavam. Nesse momento preferi não perguntar, também não convidei para entrar. Ficamos ali mesmo. A acolhi com um abraço fraternal. E ela nada me dizia. Claro que aquele silêncio era inquietante, mas às vezes as palavras não acrescentam nenhum conforto em momentos delicados. É preciso ter sensibilidade pra saber que um gesto pode mudar o fado de alguém. Por algum tempo ficamos assim imóveis, estáticos, inertes em um mundo que naquele momento concernia somente a nós dois. Depois de um tempo fitou o meu olhar e como quem percebe que foi acalentada, lançou-me um sorriso, um tanto assisado. Retribuir. Quando pensei em esboçar qualquer reação ela disse: era exatamente o que precisava. Uma sensação de contentamento tomou conta de mim. Parecia que o favor havia sido direcionado a mim. Soube naquele momento que quando me preocupava com o próximo e mais ainda, quando você se doa ao mesmo, é como se estivesse me aquecendo em meus próprios braços. Até o momento não sei o que houve de fato. Ela saiu há algum tempo. Nem mesmo entrou, quando fiz o convite. Só segurou a minha mão e a soltou aos poucos, enquanto nos olhávamos percebi que o semblante dela já não era mais o mesmo de quando chegou. Senti-me feliz por vê-la bem e por saber que ela confiava em mim. Estarei sempre aqui.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Sou Humano.

Penso que quando te vejo meu peito se enche de medo
O receio de não mais te ter me faz perceber que sou humano
Humano na dor, no sentir, no viver
Humano no temer.

Os encontros e os desencontros fazem parte de toda a existência
O mar encontra a areia da praia e depois desencontra
O sol descobre o horizonte e depois se perdem
Mas ficam marcados por essa vivência

O importante é saber que essa magia ecoa
O dia nasce novamente, o mar volta a banhar a praia
E nós? Nós teremos outra oportunidade
Pois essa vontade em nossa mente povoa

Por isso, ate lá, aguardamos
Aguardamos os nossos caminhos cruzarem
Aguardamos os nossos sonhos precipitarem
Só espero que as nossas vidas nos esperem.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

A ÚLTIMA CEIA

Quis saber dele o porquê de toda aquela intensidade de sentimentos, de verdade. O porquê de toda aquela intensidade em viver. Os meus sentimentos resultaram de uma soma de surpresa e espanto. Fiquei perplexo, os meus pés flutuavam, como se o chão os tivesse tirado de uma superfície sólida e segura. Mas ao mesmo tempo senti uma verdade inquietante. Sabe aquelas verdades que você preferiria que fosse uma mentira ou que você achava melhor não ouvir? Só que paralelo a tudo isso você pensa: se ele não me dissesse e depois eu fosse pego de surpresa? Sentiria-me traído pela falta de confiança depositada em mim, em nossa amizade e em tudo o que vivemos e passamos juntos. Tomei coragem: por que vivis assim? És tão intenso cara... Convidou-me a sentar e começou: sabe... Tenho a sensação de que viverei pouco. Tipo, que minha vida é curta ou de que não vou ter tempo suficiente de expressar, mostrar ou simplesmente “viver” tudo aquilo que preciso para me sentir completo. Dizem que um homem está realizado completamente aos 40. Profissionalmente, afetivamente e pessoalmente. Acho 40 ainda pouco, mas nem sei se vou até lá. Mas de qualquer forma – começou a sorrir – não somos eternos mesmo. Assim, pelo menos não no sentido de existência. Mas creio que a nossa eternidade está mais ligada às marcas que deixamos na memória das pessoas. Talvez por isso eu viva assim. Nesse momento meus olhos cheios de lágrimas me fizeram lembrar o que um padre falou uma vez sobre a beleza da última ceia de Jesus.  “Não há pressa. O momento é feito para celebrar. A mística da última ceia está ali. Jesus reúne aqueles que para ele tinha um valor especial. Inclusive o traidor”. É essa sensação de pressa e de que precisamos viver e fazer tudo muito rápido por que o tempo é curto. Por que estamos sempre sobrecarregados e atolados em projetos, agendas, compromissos. Por que estamos sempre querendo provar para alguém, para o mundo ou pra si mesmo que podemos sempre mais. Mas, e aquela mística da última ceia. Vou além – pensava enquanto fitava o seu olhar que observava o nada, pelo menos era o que parecia – e a mística do encontro com os amigos, com a família? E a mística do meu momento comigo mesmo? Aí outra surpresa. Ele realmente não estava olhando o nada. Estava olhando o tudo. Tudo o que havia vivido até ali. Olhando todos que haviam passado em sua vida e ainda os que iam passar. E já pensava em viver a “mística da última ceia” com eles. Ele voltou os olhos para mim sorrio e não disse mais nada. Também dessa vez não precisou. Vivemos naquele momento a mística da última ceia.